O “velho” apito da Cobrasma
PostDateIcon Ter, 29 de Março de 2011 00:00 | PostAuthorIcon Autor: José Luiz Capp | PDF Imprimir E-mail
Memórias da Cidade
Tenho ouvido estes últimos dias o “velho” apito da Cobrasma. Após longo período de silêncio voltou revigorado graças a um “punhado de bravos” capitaneado pelo Carlos Roberto Seicentos. Desativado pela antiga Cobrasma foi convocado, juntamente com outros antigos colaboradores, a prestar seus serviços ao novo complexo industrial da cidade. E o vem fazendo com a mesma fidelidade do passado. Como todos nós, ele tem o seu histórico profissional de que muito se orgulha e que espera seja lembrado com o passar do tempo.
No inicio das operações da Fundição de Aço da Cobrasma, na década de 40, esta unidade de produção trabalhava 24 horas/dia, vale dizer, sem
interrupção, pois a carteira de pedidos de clientes era enorme até com recusa de novas encomendas que demandassem atendimento em prazo menor que 1 ano.
Isso significa dizer que a procura de sucata para alimentar os fornos de aço era uma tarefa contínua e incessante, indo-se em busca dela onde quer que estivesse. Foi assim que certa manhã adentrou no pátio ferroviário da Cobrasma um lote de 15 locomotivas a vapor (maria-fumaça) desativadas durante a 2a. Guerra Mundial (1939-1945). Foi um belíssimo espetáculo ver o sol brilhando sobre as partes metálicas das velhas “maria-fumaça” que em breve se transformariam em novas peças de aço.
E a procura e compra de sucata prosseguia febrilmente sob a orientação do Sr. Sylvio Cajado de Oliveira. Certo dia, este funcionário nos comunica: ” Precisamos fazer descer para Santos alguns maçariqueiros – comprei o velho Couraçado São Paulo para ser cortado em pedaços para subir a serra por ferrovia. Teremos boa sucata por longo tempo”!
E assim foi… vários comboios ferroviários de sucata do velho navio passavam porteira adentro rumo ao pátio de sucata para serem “digeridas” pelos fornos elétricos de fusão de aço. Antes do lançamento aos fornos a sucata passava por um processo de limpeza por sopramento de ar comprimido. E aí a grande surpresa: ao ser soprada uma peça, que não se sabia o que era, surge um belo som, grave, característico de embarcações marítimas – era o apito do Couraçado São Paulo, como que implorando para não ser lançado e consumido no forno elétrico!
Alguém, que não sei dizer quem, teve a brilhante idéia de içá-lo ao reservatório elevado de água, o ponto mais alto da fábrica para ser ouvido pelas diferentes unidades de produção que se revezavam em diferentes turnos.
Extrapolando suas funções internas passou a constituir o grande referencial de tempo para a população e também para o comércio durante décadas.
Agora, em sua nova fase, vem tentando reconquistar a posição perdida – mas como todos nós, tem que se acomodar aos novos tempos.