PostDateIcon Ter, 04 de Janeiro de 2011 00:00 | PostAuthorIcon Autor: Nei Ferreira | PDF Imprimir E-mail
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Cacareco, um pacato rinoceronte, virou candidato de um bairro paulista que cresceu demais: Osasco.
Dos 540 candidatos que “ofereceram suas vidas em holocausto ao bem-estar público” concorrendo às 45 cadeiras da Câmara Munipal de São Paulo, sòmente um – Cacareco – conseguiu empolgar, de maneira espetacularmente inédita o eleitorado paulistano.
Texto de NEIL FERREIRA – Fotos de GEORGE TOROK – (Do Bureau de “O Cruzeiro” em São Paulo)
ImageE alguém ainda acabaria sem visto de saída para países da banda de cá do mundo – enfim, com sua candidatura lançada somente alguns dias antes do pleito, sua eleição está garantida. A soma de seus votos é um recorde nas eleições municipais de São Paulo, pois Cacareco, sozinho, totaliza muito mais do que a legenda mais poderosa. A média do seu eleitorado mantém-se firme, com 20 a 30 votos por urna, em todos os bairros, do mais pobre ao mais rico.
Aliás, o fenômeno político encarnado por Cacareco é algo que somente poderia ser explicado por algum sujeito muito entendido em dialética: sua candidatura ganhou corpo no seio da massa, de maneira espontânea, conquistou o restinho da classe média que ainda não morreu de fome e atingiu as mais altas camadas da burguesia.
Ainda assim, tudo foi tentado contra ele: as “forças ocultas que tentam combater as correntes populares” investiram, pelos jornais, rádios e TV, numa campanha ruidosa, com o objetivo precípuo de evitar o ingresso do “elemento perigoso ao regime” na versão paulista da Gaiola de Ouro. Tal campanha ficou sem resposta.
Cacareco não tinha acesso às fontes de divulgação.
Em compensação, ele também não se aborreceu: continuou sua vidinha de “playboy” pobre (o tal que não joga damas de nenhum andar, mas come e dorme e não faz nada). O seu comitê eleitoral continuou funcionando no Jardim Zoológico de São Paulo, e Cacareco somente se desnorteou quando um dos seus mais ferrenhos oponentes dedicou todo um editorial à sua candidatura, no jornal mais conservador da capital paulista.
Depois Cacareco se zangou quando foi intentada (e conseguida) uma solução extralegal e antidemocrática para sua candidatura: a altura dos acontecimentos em que eleitor do Cacareco se portava como torcedor do Santos F. C. – peito estufado e ar de “já ganhou” – as “forças ocultas” conseguiram que o candidato popular fosse “exilado”, dois dias antes da eleição, para o Rio de Janeiro.
Image O “golpe” consumou-se na calada da noite, mas a coisa não foi tão calada assim: sem mais aquela, enfiaram-no num caminhão. Aí, sim, ele se danou. Ficou perigoso. Não só para o regime, mas (e principalmente) para quem estava por perto. Mas o “Povo” e as “Classes Oprimidas” foram magnificamente à forra e concederam, aproximadamente, cem mil votos a Cacareco. Esse movimento original surgiu, agora se sabe, num bairro dos mais populosos de S. Paulo: Osasco. Esse bairro crescera e desejava agora a sua autonomia. Um típico caso de gigantismo. Houve um legítimo movimento em prol da emancipação de Osasco.
Com a proximidade das eleições paulistas, já subiam a 300 os candidatos do famoso bairro. Acontece que o Supremo Tribunal repudiou as pretensões dos cidadãos de Osasco. Daí a reação original: 100 mil cédulas foram impressas e todas com o nome do popular “Cacareco”, como candidato. Afirma-se agora que o movimento da gente de Osasco atigiu outras ruas e outros bairros. Virou candidatura nacional. Com isso, Cacareco virou “excelência”.
Pode ser que ele não chegue a tomar posse, mas se transformou no vereador que mais come (sem aspas) no mundo. E quando Cacareco voltar do “exílio”, o PC (Partido do Cacareco, repetimos) “terá reservada para ele não uma simples vereança, mas uma cadeira de deputado”.
:: Fontes:
* Imagem cacareco acima site: MemoriaViva
* Imagem cacareco abaixo no zoológico – site: FolhaOnline